sábado, 28 de março de 2009

Viajando

Queridos amigos, comecei ontem uma viagem que deve durar até o início de maio. Por enquanto estou na Bahia, para o aniversário de 87 anos de meu querido pai, e para alguns compromissos. Daqui vamos (maridão junto) voar um pouco por esse mundo de meu Deus. Não vou levar o laptop, nem sei se conseguirei acesso frequente à internet. Vou tentar, sim, para registrar algumas impressões de viagem , para fazer contato com vocês - sem os quais não consigo mais viver! - e para não deixar que vocês se esqueçam de mim. Puxa vida, não quero perder vocês, não quero me perder de vocês. Um beijão, um abraço, um até logo.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Para Marcus, Nilson e todos - Confissões

Quando eu era pequena, vivia perguntando pros adultos: “Você gosta de mim?” A grande maioria dizia que sim, mas isso não me bastava. Eu insistia: “Mas quanto você gosta de mim?” Perguntava também à professora, aos pais, tios, amigos de família: “Você gosta mais de mim ou de Sicraninha/Fulaninho?”
Eu também achava que, se alguém não vinha ao meu aniversário ou não me levava pra passear conforme prometera, não era porque não pôde, estava doente/ocupado etc (essas coisas nem me passavam pela cabeça), mas por que... não gostava de mim! Quando ouvi pela primeira vez “Ninguém me ama, ninguém me quer”, de Dolores Duran, me identifiquei imediatamente. Aquilo era eu!
[Aqui deveria entrar uma retumbante gravação do You Tube, da Nora Ney cantando a música da Dolores, mas não consegui trazer o vídeo pra cá... Alguém me ensina, pelamordedeus?]

Cresci. Amadureci emocionalmente. Amei, amo, sou amada, muita gente gosta de mim, alguma gente não gosta, muita gente gosta de mim mas não de tudo o que faço/digo/escrevo, eu gosto de muuuuuuita gente, eu não gosto de alguma gente, eu gosto de muita gente mas não gosto de tudo o que esta gente muito amada faz/diz/escreve... e me sinto confortável com tudo isso, acho natural. O aprendizado e a vivência do amor, nas suas faces e travessuras, me trouxeram conhecimento e conforto. Hoje, sei e sinto que sou amada e apreciada, e que amo e admiro muito gente. Mas tem horas... Ih, tem horas em que aquela menininha viva, sapeca, olhar atento, cabelo curto, aquela menina reaparece inteirinha. Ela desmonta todos os meus aprendizados e certezas afetivas. Intromete-se de repente nos meus papos, nos meus escritos, pra perguntar, sem mais nem menos : “Por que ela não gosta de mim? Por que ele não me visita? Por que ela/ele visita mais Sicrana/Sicrano do que eu? Por quê?"
[Acho que os amigos baianos já devem ter percebido: isso tudo tem relação com o comentário que a minha menininha fez no blag do Nilson, a respeito do Marcus Gusmão. Desculpem, Nilson e Licuri! A idéia era só acompanhar a brincadeira geral, mas aí a menininha pulou no meio e.... e.... ]

[Aqui deveria entrar outra gravação do You Tube, da mesmo "Ninguém me Ama", cantada agora por Fernando Lobo]
*A menininha, aos 4 anos

terça-feira, 24 de março de 2009

Tarô pessoal, carta 2


Nunca tiro meus olhos do alvo. Tenho sempre os olhos no meu alvo. Nunca me distraio. Nada escuto, não converso. Só enxergo o alvo. O meu desejo é o alvo. Tenho de acertá-lo. Meu prazer é atirar exatamente no centro do alvo. Sou O Arqueiro.

Observe que tudo de importante acontece antes da flecha partir. Quando a flecha se solta veloz no ar, seu trajeto já está decidido. Ela vai para onde eu a enviei. Tenho de concentrar-me no antes. Que arqueiro eu sou? Qual o meu alvo? Move-se? Modifica-se? Está a qual distância? Que vento sopra agora? O que a posição do meu corpo está me dizendo? Minha flecha é a adequada? Sobretudo: qual arco eu tenho? Pois a flecha parte, mas o arco fica. E o arco é flexível.

Você me chamou. Isto significa que deseja e precisa concentrar todas as energias no seu alvo. Não importa como o fará. Você decide se atira flechas como no antigo Egito, se é um indígena da América, um arqueiro medieval inglês ou um participante das Olimpíadas. Mas não se esqueça: neste período da sua vida, você é O Arqueiro.

[Criei cinco direções, cinco “naipes” para meu tarô pessoal, quatro direções naturais e uma sagrada. As quatro naturais são (nomes provisórios): Labareda, Nuvem , Raiz, Espuma. A direção sagrada é a Fantasia. A qual delas vocês acham que O Arqueiro pertence? Tenho uma intuição, mas gostaria de ouvi-los.]

[Recebi e-mail de uma velha amiga: “Janaína, você endoideceu com essa história de tarô? O que é isso? Não a reconheço, você está se perdendo de si mesma...” (e por aí ela foi). Minha resposta para a velha amiga é: “Endoideça comigo, querida”.]
[Imagem daqui]

sábado, 21 de março de 2009

Diálogos (im)possíveis 13


— Ele tem três meses de vida.
— Quem, o bebê?
— Não. O velho.

[Imagem daqui]

quinta-feira, 19 de março de 2009

Indignação


O primeiro sinal, eu o senti há exatos vinte anos: abri o jornal e, horrorizada, li que o filho de uma amiga, um rapaz que eu conhecia bem, fazia parte de uma quadrilha que acabara de ser ...
[O texto continua aqui]

terça-feira, 17 de março de 2009

Pra começar bem o dia 4


Caracola

Me han traído una caracola.


Dentro le canta
un mar de mapa.
Mi corazón
se llena de água
com peccecillos
de sombra y plata.


Me han traído una caracola.


(Frederico Garcia Lorca)

Búzio

Trouxeram-me um búzio.


Dentro dele canta
um mar de mapa.
Meu coração
se enche de água
com peixinhos
de sombra e prata.


Trouxeram-me um búzio.

(Tradução de William Agel de Melo)

[Frederico Garcia Lorca, Canciones (Canções), em: Obra Poética Completa. Brasília, Editora da UnB, 1987, 3ª edição, tradução de William Agel de Melo.]
Foto: Paulo Queiroz Ribeiro

sábado, 14 de março de 2009

Meu tarô





















[Inspirada nos posts de aeronauta e Bernardo Guimarães sobre palavras que não podem ser ditas, inicio hoje um projeto maluco, a criação de um tarô pessoal. Adoro o universo simbólico e mítico do tarô, e, se tivesse algum senso prático, seria taróloga, não historiadora, rs Como não sei desenhar, vou utilizar por enquanto imagens da net. Abaixo, a descrição da primeira carta do meu tarô. Ainda não decidi seu título, então ela vai assim mesmo, sem título. Também estou em dúvida quanto à melhor imagem para o texto: qual das duas vocês preferem? PS – Claro, nem Bernardo nem aeronauta têm a menor responsabilidade pelo que eu estou fazendo aqui. Eles só escreveram lindos textos, que vale a pena ler.]
Eu sou aquele que não se nomeia, a palavra que nunca se pronuncia. Eu sou O Oculto, O Tabu, O Segredo. Sou aquele que está ao mesmo tempo nas estrelas, no fundo da concha e no mais íntimo de cada ser. Eu sou O Desprezado, pois, mesmo me conhecendo, me soterram.
Se lhe apareço agora, é porque você quer me ver. Você está pronto para me ver. Olhe bem para mim, assim: dentro do abismo dos meus olhos. Sinta meu cheiro álacre. Feche seus olhos e me apalpe inteiro. Isto. Muito bem.
Agora, ainda de olhos fechados, procure, enterrada dentro de você, a palavra perdida, a única que me nomeia. Você está pronto a revelar-me, a revelar-se.
(Texto sob licença Creative Commons)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Rafal Olbinski, artista mágico








Nascido em 1945 na Polônia, hoje morando em Nova York, Rafal Olbinski é um artista gráfico que me agrada muito. Suas ilustrações ocupam as melhores revistas e jornais do mundo (The New York Times, Der Spiegel, Newsweek, Time etc.), e suas pinturas já fazem parte de coleções como as da Biblioteca do Congresso e da Carnegie Foundation. Adoro a maneira como, a partir do surrealismo e sempre em cores fortes, este artista percebe o mundo: intrigante, deslocado, provocador de vertigens; às vezes, terno também. Aqui, algumas imagens criadas por Olbinski; clicando no título deste post, mais imagens aparecem. Observem. Apreciem.

domingo, 8 de março de 2009

Mulher


Mulher é arrepio, solidão. Mulher, peito cheio de leite e incertezas. Mulher intuição, mulher sabe antever. Cheira silêncios, tateia guerras, divisa perdas, vislumbra amores e muros muito antes de nascerem: pois mulher sabe de fetos.
PS - Tem poema sobre mulher lá no enredosetramas
(Imagem daqui. Texto de minha autoria, sob licença Creative Commons)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Oito coisas que sonho fazer antes de morrer


A Cristiane Marino gentilmente me enviou o selo ao lado, que veio acompanhado de uma tarefa: listar oito coisas que sonho fazer antes de morrer. Achei divertida a idéia, me pus a devanear, e saiu isto:

1. Publicar a obra completa de Jacinta Passos, minha mãe.
2. Viver com saúde, amor e humor.
3. Ver meus filhos e meu amor felizes.
4. Escrever um bom romance e publicar mais em literatura.
5. Ser amada pelas pessoas que amo.
6. Reconhecer as pessoas a quem feri, e me desculpar com todas elas.
7. Nunca perder a vontade de descobrir nem a capacidade de me espantar. Sonhar sempre (ih, aqui já são três coisas!).
8. Viajar a lugares especiais, inventados e concretos.
E você, quais são as coisas que mais deseja fazer? Conte-me. Vale tudo, coisa possível e impossível. Basta dizer uma ou duas coisas, vou gostar de saber. Abraço!

terça-feira, 3 de março de 2009

Pra começar bem o dia 3


"Fiz a cama na varanda

Me esqueci do cobertor

Deu o vento na roseira (ai meus cuidados!)

Me cobriu toda de flor"

Texto: "Fiz a cama na varanda", xote, Dilu Mello e Ovídio Chaves, 1944; existem várias versões da letra e da música. Imagem: "A Primavera", de Sandro Botticelli, original na Galleria degli Uffizi, Florença. Porque o vento leva as flores, que passeiam pelo mundo.