A menina sabe: neste dia mágico tudo é para ela, por causa dela, em função dela, por ela. Não tem coisa melhor no mundo do que aniversário. Bastante tempo antes, já começa a perguntar: Falta muito pro meu aniversário? Mas pouco, quanto? É amanhã? E o meu bolo vai ser bonito? O que você vai me dar de presente? E você? Eu não quero surpresa nenhuma, eu quero saber qual é o meu presente de aniversário agora!
A ansiedade aumenta, alcança níveis quase insuportáveis, mas a menina entende que é ansiedade boa, vontade de chegar logo o grande dia, quando ela – que normalmente se sente pequena, insegura, solitária – de repente se transforma numa linda princesa, amada e poderosa.
Para a menina, o melhor do aniversário são os presentes. Hi hi hi, não tem nada melhor na vida do que ganhar presente, não tem não, a menina ri inteira enquanto rasga o papel de embrulho, louca para descobrir o que há ali dentro, o que estão lhe ofertando, qual dádiva lhe cabe. Tão feliz, tão feliz, tão feliz, todo mundo em volta de mim, todo mundo me amando! E ela pula de alegria pela casa inteira, no meio dos convidados.
Suas festas de aniversário são modestas, os pais não as incentivam muito, mas quem se importa? A menina as considera enormes, coloridas, animadas, sente a cidade inteira comemorar junto com ela, com bolo, guaraná e brigadeiro em casa, nas ruas as bandas de música, as praias lotadas, bandeirinhas, balões, parques de diversão cheios de crianças… No dia do seu aniversário, não vai à escola. Nem meus pais trabalham, só pra ficar comigo, conta para a amiguinha, derretendo-se de satisfação.
O aniversário também representa uma das piores desilusões da menina.
Está no primeiro ano de escola, sentada junto aos coleguinhas, na sala de aula. A professora lhes pergunta: “Quem sabe por que no próximo 21 de abril é feriado?” Silêncio total, expressão da mais profunda ignorância. Mas eis que um dedinho se levanta...
“Viram, crianças? A menina sabe! Diga, menina, fale bem alto para todos os seus colegas ouvirem: por que o dia 21 de abril é feriado nacional?”
Peitinho inchado de orgulho, a menina responde: Porque é meu aniversário, ora!
Mas… por que a professora tá rindo? Hã? O quê? Qual Tiradentes? Que Inconfidência Mineira? Que diabos essa professora tá dizendo? Não estou entendendo nada, não pode ser!
Respira fundo e, já com os olhinhos cheios de lágrimas, balbucia, inteiramente perdida:
Mas e o meu aniversário? E eu???
Até hoje não se recuperou direito do momento em que perdeu a primeira infância.
Imagens: Bilhete e foto da menina aos 5 anos.