domingo, 28 de março de 2010

Conversa a dois

Imagem de autoria do maravilhoso artista australiano Shaun Tan.
O que será que estes dois conversam? me peguei perguntando.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Hoje acordei...6

Hoje acordei…

… a deusa Nu Wa.
Arrasto meu corpo
querendo brincar
.


Hoje acordei…

… com vontade de voar
.



Hoje acordei…

… bolha de sabão.
Ar que flutua na
imaginação.



Hoje acordei…

sapo-cururu.
Inveja da borboleta!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Não confio mais no sedex



Há dias tento escrever este texto, mas não consigo. Não sei se devido à minha frustração com o assunto, ao fato de eu chorar toda a vez em que penso nele, à minha profunda sensação de impotência... Vou tentar vencer ...
(O texto continua aqui)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Pra começar bem o dia (11)


Neste retorno de viagem, quando ainda não aterrissei completamente – imagens de lá e de cá se confundem em nuvens e estranhos sentimentos–, compartilho com vocês este poema, escrito por um poeta que admiro e sempre leio:

&

Não é sempre que estamos para papos
com anjos: o da espada
auriflamante era só engraçado.

Diz-se que até um anjo
da guarda, ao olhar-se no espelho, caiu
na gargalhada.

Mas se algum anjo bater na sua janela
ou escrever nela alguma algaravia,
não ria: talvez sejam palavras
belas.

Antônio Brasileiro, Pequenos assombros
(Bahia, Edições Cordel: 2001)


*Imagem: Domenico Beccafumi - detalhe de São Miguel caçando os anjos rebeldes, 1528.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O último dinossauro da Terra

O dinossauro chegou bem devagar
com aqueles olhos mansos
balançando o corpo pesado
cabeçona caída, boca fechada.
De tão encolhido, nem se via o rabo.

Estava muito triste, o dinossauro.

Solitário. Há mais de cinquenta anos
caminhava em seu passo firme e lento
pelas savanas africanas — e nada.
Não encontrara nenhum companheiro.
Nenhum bicho igual a ele.

Descobrira zebras girafas leoas javalis
que, aborrecido, derrubava com o
dedo mindinho da pata esquerda
— e às vezes, desgostoso,
nem comia.

Tigres camelos mastodontes
— isso sim havia. Jacarés
também. Simpatizou com estes.
Mas jacarés não são dinossauros
não senhor. A verdade crua:
no mundo não existia
um único dinossauro como ele.
Nem unzinho.

Cinquenta anos de solidão nas
savanas africanas é tempo demais,
até para um ser habituado
às durezas da vida um
casca-grossa como ele.

Arrasado0 vazio entristecido
o último dinossauro da Terra
desistiu de viver. Por que habitar
um mundo sem amigos um
mundo onde não havia ninguém
para tocar as estrelas, junto a ele?

O dinossauro deitou-se sobre folhas,
à sombra da mais alta árvore da África.
Encolheu lentamente as patas
largou no chão o pescoço grosso
e fechou para sempre os olhos cansados.
Virou pássaro.

PS - Amigos, viajo hoje - para o interior, paulista e mineiro. Volto daqui a uma semana, até lá.
* Imagem daqui.

terça-feira, 2 de março de 2010

Bicharada, ou os tempos da história




Foram só 80 km até lá, mas meus amigos e eu tivemos a impressão de ter feito uma longuíssima viagem no tempo, rumo è época em que os mitos eram absolutos. O lugar é Boca da Mata, pequena cidade no interior de Alagoas. Ali mora a família de Manoel da Marinheira, hoje com 93 anos, artista popular que criou a arte de esculpir feras, felinos e outros animais em troncos de jaqueira. Ele ensinou o ofício aos 20 filhos, e alguns deles, entre os quais André (de camiseta vermelha na foto de cima), Sebastião e Manoel Filho (de óculos escuros e camiseta azul), seguem sua arte.
Ao chegarmos, surpreendemos Manoel da Marinheira Filho esculpindo na madeira um lobisomem devorando um carneiro. Sua mãe, Nancy (de vestido estampado), alegre e afetiva, logo nos foi contando muitas histórias de lobisomens que, sim, vivem ali mesmo em Boca da Mata (nome apropriado, pensei), e sim, devoram pessoas e depois desviram em gente, e… As histórias se sucediam, contadas pelos membros da família, que nos envolveram a todos naquele mundo afetivo de bichos que existem e bichos que não existem, de frutas e rios, mesclados aos fatos da vida contemporânea – membro da família que migra para São Paulo, retorna e remigra, japonês de São Paulo trazido por um familiar que abre em Boca da Mata, sem sucesso, um restaurante japonês, gente pobre lutando para melhorar de vida... Histórias de vários tempos, em torno da beleza dessa arte única em madeira, que eles criam.


Manoel da Marinheira, o inventor de tudo, já velhinho, recebe o carinho dos bisnetos.

Na saída da cidade, no Balneário Águas de São Bento, uma bela fazenda, está exposta a coleção particular de Jorge Tenório, industrial nascido em Boca da Mata, contendo peças de Manoel da Marinheira, de seus filhos e discípulos. Pasmem: catalogada, bem cuidada e aberta ao público, a coleção tem mais de 850 peças! É uma bicharada sem fim, uma beleza de arte deste Brasil quase desconhecido.


Sala dos bichos deitados.

Os bichos são variados!



Olhem só esta porca e seus porquinhos. Há também jacarés, pássaros, elefantes... o que couber na imaginação.


Sala dos móveis : mesas , bancos de jardim que mais parecem tronos, belezas sem fim.
* Fotos: Luiz Carlos Figueiredo