O dinossauro chegou bem devagar
com aqueles olhos mansos
balançando o corpo pesado
cabeçona caída, boca fechada.
De tão encolhido, nem se via o rabo.
Estava muito triste, o dinossauro.
Solitário. Há mais de cinquenta anos
caminhava em seu passo firme e lento
pelas savanas africanas — e nada.
Não encontrara nenhum companheiro.
Nenhum bicho igual a ele.
Descobrira zebras girafas leoas javalis
que, aborrecido, derrubava com o
dedo mindinho da pata esquerda
— e às vezes, desgostoso,
nem comia.
Tigres camelos mastodontes
— isso sim havia. Jacarés
também. Simpatizou com estes.
Mas jacarés não são dinossauros
não senhor. A verdade crua:
no mundo não existia
um único dinossauro como ele.
Nem unzinho.
Cinquenta anos de solidão nas
savanas africanas é tempo demais,
até para um ser habituado
às durezas da vida um
casca-grossa como ele.
Arrasado0 vazio entristecido
o último dinossauro da Terra
desistiu de viver. Por que habitar
um mundo sem amigos um
mundo onde não havia ninguém
para tocar as estrelas, junto a ele?
O dinossauro deitou-se sobre folhas,
à sombra da mais alta árvore da África.
Encolheu lentamente as patas
largou no chão o pescoço grosso
e fechou para sempre os olhos cansados.
Virou pássaro.
PS - Amigos, viajo hoje - para o interior, paulista e mineiro. Volto daqui a uma semana, até lá.