quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Hoje acordei...5

Hoje acordei…
… estrela-do-mar.
Quem contou a mentira
que mar e céu nunca se tocam?



Hoje acordei…
gavinha. Abraçada
a todas as outras plantinhas.


Hoje acordei…

… com saudade da minha mãe.
Corri, dei um beijo nela, mas a saudade…
aumentou!

Hoje acordei…

… alegria da madrugada. Samba,
carnaval e batucada.


Imagens (de cima para baixo): daqui, daqui, daqui, e de Stephen Hess, do site Brazilphotobank.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Qualquer coisa que cresce e que transborda


"O cabelo faz da mulher um ser misterioso que carrega na cabeça, na parte do corpo que é mais nítida e mais marcada, uma coisa recebida como um mar e confusa como uma floresta. Está fora do corpo, é uma espécie de jardim privado, onde o dono exerce à vontade sua fantasia e sua desordem. É qualquer coisa que cresce e que transborda como se estivesse livre do domínio da alma."

Gustavo Corção
(Três alqueires e uma vaca, Rio: Ed. Agir, 1961)


Sou de uma geração que não gosta nem um pouco das idéias de Gustavo Corção, o pensador católico ultraconservador, que defendeu tudo o que nós queríamos mudar: o modelo único da família nuclear, o catolicismo tradicional, a política de direita, a propriedade privada como base da sociedade, a ortodoxia, etc. Isso não me impede de encantar-me com este pequeno trecho de autoria de Corção, achando-o bonito, sensível, original. Como somos todos múltiplos e contaditórios... ainda bem.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O mundo é colorido

Amei este vídeo, recebido da e-amiga Cirandeira. Compartilho-o com vocês.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Hoje acordei...4


Hoje acordei…

… amalucada.
Não vês a pena vermelha
na minha roupa de padre?



Hoje acordei...

... letra X. O xóxima
xuaxalha o xucuru-cariri.



Hoje acordei…

… espinho.
E sem flor.

Hoje acordei…

...amor-perfeito. Então
por que esta dor aguda
no meu….?

Imagens (de cima para baixo): daqui, daqui, daqui e daqui.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Simpatia é quase amor


O que eu vou dizer em casa? Concentra mais não sai

Bangalafumenga Suvaco de Cristo Fazer o quê

Maluco Beleza (pacientes de um sanatório)

Meu bem, volto já! Já fui bom nisso

Se der certo continua Imprensa que eu gamo

Urubu Cheiroso Eu sou eu e jacaré é bicho d´água

Deixa arder e depois não berra


VIVA OS BLOCOS DE CARNAVAL DE RUA, COM SUA ANARQUIA, SUA ALEGRIA E SEUS NOMES CRIATIVOS!!!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Notícia terrível


Como vocês, sou bombardeada a todo instante por uma quantidade inimaginável de notícias, que me chegam pela net, televisão, jornais, celular e o escambau. A maioria das notícias é ruim, é péssima, sabemos instantaneamente de todas as desgraças do mundo inteiro. Para sobreviver a esse massacre, tentar me proteger da dor e indignação excessivas, muitas vezes visto uma couraça. Esta minha dura couraça de indiferença e esquecimento, todavia, às vezes se parte. E sou então atingida no coração, e quase morro com a força do petardo.

Minha couraça rompeu-se há poucos dias, e ainda não se fechou, desde que ouvi a notícia: mataram no Recife o jovem universitário Alcides do Nascimento Lins, de 22 anos. Em 2007, Alcides irrompera no noticiário como um exemplo, como aquele que se recusara a aceitar a vida miserável que o destino lhe reservara. Filho de uma catadora de lixo, que criava sozinha os quatro filhos, Alcides estudara apenas em escolas públicas, longe de sua casa – percorria o trajeto de muitos quilômetros a pé, sob sol ou chuva, às vezes descalço ­–, sem livros nem cadernos nem recursos próprios, aperfeiçoando-se em bibliotecas públicas. Mas, aos 19 anos de idade, Alcides acabara de ser aprovado no concorridíssimo vestibular para o curso de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco. A notícia me chegou então como um sol, uma esperança, um sinal de que afinal, aqui e ali, ao nível individual era possível salvar-se do círculo inexorável da miséria, da fome, da droga, da doença, da marginalidade, para tentar alcançar algo melhor, uma vida mais digna de ser chamada de vida.

As circunstâncias da morte de Alcides derrubaram definitivamente esse meu fio de esperança. Alcides morreu vítima da mesma miséria da qual tentou escapar. Os assassinos – mais pobres do que ele – procuravam um vizinho seu, para um acerto de contas relativo ao tráfico de drogas. Como Alcides não soube informar onde estava o vizinho, foi assassinado com tiros ali mesmo, em frente à sua casa, no bairro pobre da Torre, no Recife, onde foi criado. Sua mãe, Maria Luíza Ferreira do Nascimento, 44 anos, desesperada, disse que não sabe mais como seguir em frente.

Eu também não sei.
*Foto de Alcides do Nascimento Lins, trazida daqui.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Diálogos (im)possíveis 16


[Diálogo verídico, relembrado hoje, em conversa gostosa com minha prima Paloma.]
A costureira da família ia sempre lá em casa, consertar roupas, trocar zíperes, alargar e encompridar nossas roupas de crianças que cresciam. Quitéria era baixa, gorda, suada, tinha por olhos dois pequenos traços, que sumiam quando se ria, mostrando os dentes estragados. Nós a achávamos muito velha, mas devia andar pela casa dos 40 e poucos anos. Um dia, avisou à minha tia:
— Amanhã eu não posso vir. A minha filha, que eu não vejo faz quase 15 anos, está chegando do Recife. Eu vou buscar ela.
O tio, que passava por ali e ouviu a conversa, perguntou, gaiato:
— Quitéria, então você tem uma filha? E eu, que pensei que você fosse virgem!
Ela respondeu na bucha, rindo, os olhinhos sumidos:
— Seu Jorge, e eu lá tenho paciência pra isso?
*Imagem trazida daqui.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Hoje acordei...3

Hoje acordei…
… cabrita.
Pulando, pulando,
com minha barbicha.


Hoje acordei…

… muito velha.
Rugas, frio,
dores nos joelhos, nas costas.
E esta sede de vida.


Hoje acordei…

… água de coco.
Deliciosa!


Hoje acordei…

… daltônica. Que
lindas árvores vermelhas!

*Imagens (de cima para baixo):
daqui, daqui, daqui e daqui.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010