sábado, 6 de junho de 2009

Pra começar bem o dia 5



Memória amorosa

Quando ele aparece
bonito e mudo se posta
entre moitas de murici.
Faz alto-verão no corpo,
no tempo dilatado de resinas.
Como quem treina para ver a Deus,
olho a curva do lábio, a testa,
o nariz afrontoso.
Não se despede nunca.
Quando sai não vejo,
extenuada por tamanha abundância:
seus dedos com unhas, inacreditáveis!

Adélia Prado

Não é absolutamente lindo este poema? Surpreendente, original? Gosto muito dele, por isso hoje o compartilho com vocês.

[Adélia Prado. Poesia reunida. S.Paulo: Siciliano, 1991, p. 346.]

4 comentários:

Ana Tapadas disse...

Lindo mesmo! Assim começo bem esta tarde de trabalho!
Bom sábado e um beijinho

Muadiê Maria disse...

Janaína,
absolutamente lindo. Eu lembro do dia que comprei esse livro de Adélia. Nos anos 80, numa livraria que não existe mais, na Barra. Eu tinha vinte e poucos anos e sofria por amor.
Um beijo e bom domingo!
Amanhã, finalmente, vou colocar o livro no correio.

Márcia(clarinha) disse...

absolutamente perfeito

beijos

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

tenho andado descobrindo Adélia Prado , e tem sido uma aventura gostosa ... Adélia è uma Grande poeta e uma consciência reflexiva sobre a arte de escrever extraordinària ...
Grato pela partilha!
cordialmente
___________ JRMARTO