Memória amorosa
Quando ele aparece
bonito e mudo se posta
entre moitas de murici.
Faz alto-verão no corpo,
no tempo dilatado de resinas.
Como quem treina para ver a Deus,
olho a curva do lábio, a testa,
o nariz afrontoso.
Não se despede nunca.
Quando sai não vejo,
extenuada por tamanha abundância:
seus dedos com unhas, inacreditáveis!
Adélia Prado
Não é absolutamente lindo este poema? Surpreendente, original? Gosto muito dele, por isso hoje o compartilho com vocês.
[Adélia Prado. Poesia reunida. S.Paulo: Siciliano, 1991, p. 346.]
4 comentários:
Lindo mesmo! Assim começo bem esta tarde de trabalho!
Bom sábado e um beijinho
Janaína,
absolutamente lindo. Eu lembro do dia que comprei esse livro de Adélia. Nos anos 80, numa livraria que não existe mais, na Barra. Eu tinha vinte e poucos anos e sofria por amor.
Um beijo e bom domingo!
Amanhã, finalmente, vou colocar o livro no correio.
absolutamente perfeito
beijos
tenho andado descobrindo Adélia Prado , e tem sido uma aventura gostosa ... Adélia è uma Grande poeta e uma consciência reflexiva sobre a arte de escrever extraordinària ...
Grato pela partilha!
cordialmente
___________ JRMARTO
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