quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Uma casa é uma coisa que se encontra


Terminei de ler há dias o livro Os da minha rua, do angolano Ondjaki, que, ainda jovem (31 anos), é poeta, romancista e contista, e já publicou 7 livros, alguns detentores de prêmios e traduzidos em outras línguas. Comprei o livro na Fliporto e ganhei autógrafo do autor, com direito a desenho e tudo.
Este é o primeiro livro de Ondjaki que leio. Composto de capítulos curtos (que podem ser apreciados independentes uns dos outros ), o livro recria a infância do autor, de seus parentes mais chegados e de seu grupo inseparável de amigos — os da sua rua — na cidade de Luanda, década de 80.
É um livro mágico sobre infância e memória da infância, comovente sem jamais ser piegas, com cheiro de fruta, calor de abraços e deslumbramento de descobertas. Revisita a infância, esse tempo fundante do autor e de todos nós, com afeição, encantamento, humor, simplicidade, imaginação. Adorei.
Pra vocês, o trecho final do capítulo "palavras para o velho abacateiro":
“Não gosto de despedidas porque elas chegam dentro de mim como se fossem fantasmas majumbeiros [=fofoqueiros] que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança.
Desci. Sentei-me perto, muito perto da avó Agnette.
Ficamos a olhar o verde do jardim, as gotas a evaporarem, as lesmas a prepararem os corpos para novas caminhadas. O recomeçar das coisas.
— Não sei onde é que as lesmas sempre vão, avó.
— Vão para casa, filho.
— Tantas vezes de um lado para outro?
— Uma casa está em muitos lugares – ela respirou devagar, me abraçou. — É uma coisa que se encontra.”
(Ondjaki, Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, Coleção ponta-de-lança, 2007)

11 comentários:

Anônimo disse...

Janaína,
puxa vida!
Uma resenha dessas e o cara fica feliz da vida.
Deve ser mesmo muito bom o escritor.
Beijo, menina

- Luli Facciolla - disse...

Jana!
Que lindo texto!
O seu e o dele, viu?!

Beijos

Juan Trasmonte disse...

Maravilha, Janaina, vou linkar o teu já já
Valeu!
bjs

Edu O. disse...

que post lindo!

Iêda disse...

Gostei muito da tua resenha e de descobrir - tanto o teu blog (ou melhor, blogs, pois tem o outro), como esse autor que eu não conhecia.

Também gosto de biscoito maizena quebradinho no leite.

Me deu saudade da infância!!!

Beijos e um ótimo dia

Iêda

Iêda disse...

Ah, de que parte da Bahia vc é? (vi em algum post seu que vc é baiana)

Eu sou de Ilheus.

bjs

Aninha Pontes disse...

Deu vontade de ler.
Mas é para isso que servem as resenhas né?
Um beijo querida.

Janaina Amado disse...

Valter, Luli, Aninha, Edu: o livro é muito bom, sim, desperta infância na gente.
Iêda, bom receber sua visita, volte sempre. Sou de Salvador.
Juan, acho teu blog muito legal, muito sensível.

Muadiê Maria disse...

Já li este livro, é delicioso. Também gosto de Bom dia, camaradas, é muito bonito e fala dos professores cubanos em Angola.
Você já leu Pepetela?

Janaina Amado disse...

Maria Muadiê, "Bom Dia Camaradas" devo ser bom realmente, por este livro vi o carinho que o Ondjaki tem pelos seus antigos professores cubanos. Pepetela é meu velho conhecido, gosto muito, acho que li quase tudo dele. Dos africanos de língua portuguesa, meu preferido, até agora, é Mia Couto. Descobri-o antes dele ser conhecido aqui, quando morei um ano em Portugal, em 1996-7. Me apaixonei imediatamente pela literatura dele. Acho o Mia excepcional, de um nível que poucos alcançam.

Edu O. disse...

Janaína, fiquei muito feliz por vc ter associado meu texto a este livro. Uma honra e alegria. obrigado.
É que infância com amigos, rua, avó, mãe e brincadeira é feliz em qualquer canto.