Terminei de ler há dias o livro Os da minha rua, do angolano Ondjaki, que, ainda jovem (31 anos), é poeta, romancista e contista, e já publicou 7 livros, alguns detentores de prêmios e traduzidos em outras línguas. Comprei o livro na Fliporto e ganhei autógrafo do autor, com direito a desenho e tudo.
Este é o primeiro livro de Ondjaki que leio. Composto de capítulos curtos (que podem ser apreciados independentes uns dos outros ), o livro recria a infância do autor, de seus parentes mais chegados e de seu grupo inseparável de amigos — os da sua rua — na cidade de Luanda, década de 80.
É um livro mágico sobre infância e memória da infância, comovente sem jamais ser piegas, com cheiro de fruta, calor de abraços e deslumbramento de descobertas. Revisita a infância, esse tempo fundante do autor e de todos nós, com afeição, encantamento, humor, simplicidade, imaginação. Adorei.
Pra vocês, o trecho final do capítulo "palavras para o velho abacateiro":
“Não gosto de despedidas porque elas chegam dentro de mim como se fossem fantasmas majumbeiros [=fofoqueiros] que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança.
Desci. Sentei-me perto, muito perto da avó Agnette.
Ficamos a olhar o verde do jardim, as gotas a evaporarem, as lesmas a prepararem os corpos para novas caminhadas. O recomeçar das coisas.
— Não sei onde é que as lesmas sempre vão, avó.
— Vão para casa, filho.
— Tantas vezes de um lado para outro?
— Uma casa está em muitos lugares – ela respirou devagar, me abraçou. — É uma coisa que se encontra.”
Desci. Sentei-me perto, muito perto da avó Agnette.
Ficamos a olhar o verde do jardim, as gotas a evaporarem, as lesmas a prepararem os corpos para novas caminhadas. O recomeçar das coisas.
— Não sei onde é que as lesmas sempre vão, avó.
— Vão para casa, filho.
— Tantas vezes de um lado para outro?
— Uma casa está em muitos lugares – ela respirou devagar, me abraçou. — É uma coisa que se encontra.”
(Ondjaki, Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, Coleção ponta-de-lança, 2007)
11 comentários:
Janaína,
puxa vida!
Uma resenha dessas e o cara fica feliz da vida.
Deve ser mesmo muito bom o escritor.
Beijo, menina
Jana!
Que lindo texto!
O seu e o dele, viu?!
Beijos
Maravilha, Janaina, vou linkar o teu já já
Valeu!
bjs
que post lindo!
Gostei muito da tua resenha e de descobrir - tanto o teu blog (ou melhor, blogs, pois tem o outro), como esse autor que eu não conhecia.
Também gosto de biscoito maizena quebradinho no leite.
Me deu saudade da infância!!!
Beijos e um ótimo dia
Iêda
Ah, de que parte da Bahia vc é? (vi em algum post seu que vc é baiana)
Eu sou de Ilheus.
bjs
Deu vontade de ler.
Mas é para isso que servem as resenhas né?
Um beijo querida.
Valter, Luli, Aninha, Edu: o livro é muito bom, sim, desperta infância na gente.
Iêda, bom receber sua visita, volte sempre. Sou de Salvador.
Juan, acho teu blog muito legal, muito sensível.
Já li este livro, é delicioso. Também gosto de Bom dia, camaradas, é muito bonito e fala dos professores cubanos em Angola.
Você já leu Pepetela?
Maria Muadiê, "Bom Dia Camaradas" devo ser bom realmente, por este livro vi o carinho que o Ondjaki tem pelos seus antigos professores cubanos. Pepetela é meu velho conhecido, gosto muito, acho que li quase tudo dele. Dos africanos de língua portuguesa, meu preferido, até agora, é Mia Couto. Descobri-o antes dele ser conhecido aqui, quando morei um ano em Portugal, em 1996-7. Me apaixonei imediatamente pela literatura dele. Acho o Mia excepcional, de um nível que poucos alcançam.
Janaína, fiquei muito feliz por vc ter associado meu texto a este livro. Uma honra e alegria. obrigado.
É que infância com amigos, rua, avó, mãe e brincadeira é feliz em qualquer canto.
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