Ama-se como se come, diz o ditado.
Minha irmã acha que o marido se apaixonou por ela ao vê-la comer uma maniçoba, deliciosa iguaria de carne de porco misturada às folhas tenras, trituradas, da mandioca. É provável: meu cunhado, ótimo cozinheiro, afeiçoa-se às morcelas, tripas, cozidos e pães da deliciosa e pesada culinária portuguesa. Minha irmã, com graça, diz que o marido acharia sexualmente desanimador ver uma mulher jantar apenas uma folhinha de alface. Ele tem razão: comer só uma folha de alface sugere mania de regime, portanto mulher excessivamente vaidosa, intolerante, triste, com tendência à anorexia, desprovida das carnes, molhos e generosidades indispensáveis ao bom sexo.
Mas, e eu, como fico nessa história de amores e comidas? Adoro saladas! No universo da exaltação das maniçobas e que tais, minha reputação amorosa, assim como a de todos os outros amantes da salada, seria atirada ao limbo? Metida em brios, faço uma apaixonada defesa das possibilidades eróticas das saladas.
Duvida? Então, comece misturando amorosamente, bem devagar, prestando atenção ao que faz, os lindos tons e subtons verdes das folhas ao vermelho-paixão da beterraba, ao alaranjado-coração da cenoura, à malícia do tomate, às azeitonas – que, antes de mordidas, devem ser saboreadas vagarosamente por toda a boca -, sem se esquecer, claro, dos picantes pimentões. Sinta o aroma inconfundível do manjericão, que, mesclado ao do orégano, fará você se perguntar onde diabos já sentiu aqueles cheiros maravilhosos, em qual jardim, qual alcova, qual marinha...
Minha irmã acha que o marido se apaixonou por ela ao vê-la comer uma maniçoba, deliciosa iguaria de carne de porco misturada às folhas tenras, trituradas, da mandioca. É provável: meu cunhado, ótimo cozinheiro, afeiçoa-se às morcelas, tripas, cozidos e pães da deliciosa e pesada culinária portuguesa. Minha irmã, com graça, diz que o marido acharia sexualmente desanimador ver uma mulher jantar apenas uma folhinha de alface. Ele tem razão: comer só uma folha de alface sugere mania de regime, portanto mulher excessivamente vaidosa, intolerante, triste, com tendência à anorexia, desprovida das carnes, molhos e generosidades indispensáveis ao bom sexo.
Mas, e eu, como fico nessa história de amores e comidas? Adoro saladas! No universo da exaltação das maniçobas e que tais, minha reputação amorosa, assim como a de todos os outros amantes da salada, seria atirada ao limbo? Metida em brios, faço uma apaixonada defesa das possibilidades eróticas das saladas.
Duvida? Então, comece misturando amorosamente, bem devagar, prestando atenção ao que faz, os lindos tons e subtons verdes das folhas ao vermelho-paixão da beterraba, ao alaranjado-coração da cenoura, à malícia do tomate, às azeitonas – que, antes de mordidas, devem ser saboreadas vagarosamente por toda a boca -, sem se esquecer, claro, dos picantes pimentões. Sinta o aroma inconfundível do manjericão, que, mesclado ao do orégano, fará você se perguntar onde diabos já sentiu aqueles cheiros maravilhosos, em qual jardim, qual alcova, qual marinha...
Antes de saber a resposta, você já estará acrescentando as uvas, que não embriagam mas conduzem certamente ao mundo excitante dos vinhos e suas semi-verdades. Ao final, derrame em tudo bastante azeite da melhor qualidade – o método deve variar, de uma só vez só, ou gota a gota, bem devagarinho. Não se esqueça de envolver toda a salada no azeite, para que fique bem molhadinha, com aquele inconfundível ar mediterrâneo. Polvilhe finalmente sal, porque sem sal a vida não tem graça.
O melhor de tudo: ao final, você se sentirá leve, leve, absolutamente em forma para qualquer exercício do amor, bem ao contrário do que aconteceria após uma maniçoba...
O melhor de tudo: ao final, você se sentirá leve, leve, absolutamente em forma para qualquer exercício do amor, bem ao contrário do que aconteceria após uma maniçoba...
13 comentários:
Querida Jana,
Dei uma olhada em retrospectiva e adorei o que vi e li.Confesso que não sou um blogueiro de carteirinha mas gostei muito dos textos especialmente este o qual engrosso as fileiras saladistas.
Parabéms pela iniciativa. Desejo muitas e deliciosas inspirações na nova jornada. Eu voltarei...........
Beijos carinhosos
Adilson
Oi, Adilson saladeiro, ótimo te ver por aqui - volte sempre, sim!
Comentarei sem saber se a coisa vai
sair com o meu nome, ou não; sem saber se isto vai pra frente, ou se apagará (será o meu segredo, como outros tantos emails que não consegui empurrar pra frente). Gostei da forma, literariamente bem excitante, e do conteúdo, excitantemente bem do meu sabor.
Que maravilha! Estou conseguindo me
comunicar! Saiu direitinho. Gostei. Vou comer mais salada.
Com certeza que Luigi di Maceiócio comerá mais salada (uma e duas!).
Sou mais da mani, do sarapa... assim, bem íntimos.
Hum... sua saladinha me deu água na boca!
Mas também não dispenso a maniçoba (o sexo selvagem das comidas, né?)
Beijão e vou te colocar lá no Trapos
Mary
Mary maniçalface,
Ótimo te ver por aqui, viu? Também vou linka o seu Trapos Coloridos. Beijos pra você e pros meninos
Janinha,
Deu água na boca e vontade de amar. Melhor que comer, no entanto, é fazer salada. Cortar cada cor devagarinho pensando em quem vai repartí-la com você. Misturar bem cada textura, sal e doce, com frutas de época e fora de época também. E pegar uma folha nova de alface, daquelas do coração do pé, olhar para o parceiro de prato e cama e sem qualquer malícia, lamber-lhe o excesso de azeite virgem.
Adorei.
Beijinho,
Iná
Iná, companheira no amor às saladas, ou nas saladas de amor, que texto ótimo, lindo, o seu! Venha sempre aqui, viu?
Janaina:
demorei porque estava comendo uma rabada (?!).
Estou com o satisfazido cheio.
Seu blog está cada dia melhor!
Hahaha, Bernardo, essa foi ótima!
Volte sempre, viu?
Um post, literalmente delicioso.
Como disse Iná, fazer uma bela salada é uma delícia, mas come-la também é para sentir muito prazer.
Muito bom.
Um beijo
Puxa, que belo texto! Muito bem articulado, nos atrai para a salada e para o amor. Parabéns!
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