quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O lobisomem de Viçosa






















(Fotos: Luiz Carlos Figueiredo)

Adoro lobisomens. O principal personagem masculino de meu romance Dandara é um faiscador que, nas noites de lua cheia dos meses de trinta dias, se transforma em lobisomem. Escrevi um livro para crianças, intitulado... Lobisominho. Jamais duvidei da existência desses seres enigmáticos que incendeiam nossas imaginações, confrontando-nos com nossos medos e instintos básicos. Lobisomens estão por aí há séculos, já foram vistos por milhares — bem, talvez centenas — de pessoas. Entre elas, meu filho Bernardo, aos três anos de idade, e meu sogro Deodato, ótimo pescador, que me fizeram relatos detalhados, saborosíssimos, de seus encontros com lobisomens. Há quem desacredite do relato de crianças e pescadores, mas é evidente que esses incréus nada sabem da vida.
Ainda recentemente, conheci um novo lobisomem. Foi na cidade de Viçosa, interior de Alagoas (já notaram que lobisomens não nascem em litorais? Vai ver, têm medo d´ água), quando visitávamos a movimentada feira de sábado, capitaneados pelo poeta Sidney Wanderley, conhecedor de tudo e todos em sua terra natal. Nos deliciávamos com a profusão de cores, odores, sabores, entre queijos, jacas, cocos, melancias, macaxeiras — nada se compara a uma feira de sábado no interior do Nordeste —, quando Sidney cumprimenta vivamente um passante e o faz parar , nos dizendo: “Este é meu amigo José Neto, pintor de profissão. Ele conhece o lobisomem de Viçosa.”
Então acontece bem ali à nossa frente o milagre, epifania. Zé Neto, pacífico avô a fazer compras na feira, de repente se transforma no lobisomem que descreve e conhece tão bem. Não é mais ele quem está ali, em sua camiseta escrita em inglês e enormes óculos escuros, mas um aterrador, enlouquecido lobisomem que em noites de lua cheia sai dos becos para assombrar os moradores da cidade, imenso, peludo, dentes pontiagudos, assim ó, garras à mostra, arfante, dono de um urro ouvido até em Capela, até em Mar Vermelho tem gente que escuta o urro deste lobisomem esfomeado, pelos da cara espetados, focinho tremendo, sempre pronto a atacar as pessoas, a morder, a estraçalhar... Uma noite ele correu atrás da mãe, queria comer a própria mãe! Sim, todos aqui sabem quem é este perigoso lobisomem: umpobre que gosta de ficar vagando sozinho, à noite. Não, ele não concorda que seja o lobisomem, mas ninguém acredita nele, afinal todo mundo aqui já viu...
A platéia cresce, crianças se aproximam para ouvir Zé Neto. O poeta Sidney se empolga, ao recordar o medo que o menino Sidney sentia do monstro. Por um breve tempo, ele também se transmuta em lobisomem.
Desse encontro ancestral saio encantada. Prometo voltar, pois Zé Neto informa que em Viçosa vive também uma lobismulher.
[Pra comprovar a veracidade do relato, aí vão as fotos: Zé Neto/lobisomem mostrando as garras; lobisomem em posição ereta; lobisomem com a pata fechada; a platéia aumenta; o poeta também conta sua história; vista parcial de Viçosa: em qual dessas casas habita o terrível lobisomem?]

9 comentários:

valter ferraz disse...

Janaína,
por alguns minutos saímos do foco da história e mergulhamos na foto. Tentamos descobrir quem é a narradora. Seguramente uma das ouvintes do poeta. Apostei na moça com a máquina fotográfica.
Agora, vem cá: deixa de história de deixar menino com medo (acaba mijando na cama)
Beijo, menina

Lord Broken Pottery disse...

Jana,
Conheço bem suas histórias de lobisomen. De Dandara nem falo, e a última, a do Lobisominho, ficou um barato, prendeu-me até o fim dos capítulos.
Beijos

Bernardo Guimarães disse...

Na minha terra era Bil Amarelo quem virava lobisomem, rolando onde um jumento despojava. minha comadre Florentina se bateu com ele e, de longe, também viu a Mula de Padre.

Aninha Pontes disse...

Você me fez lembrar minha infância.
Minha mãe e tias tinham essa mania de contar histórias de lobisomem.
E pela maneira que falavam, eram íntimas dos mesmo.
Credo. Cada história! Como elas mesmas diziam: "Do Arco da Velha".
Vou ler seu livro, dar o link ao Érickinho.
Depois te falo sobre ele.
Beijos querida.

- Luli Facciolla - disse...

Oi, Janaina, vim lá dos blogs de Maria e Bernardo conhecer o seu blog. Muito bom: leve, divertido! Bom mesmo!
Volto, viu?!

Beijo

- Luli Facciolla - disse...

E, se me permite, vou colocar o seu link lá no Ainda Conto!

Beijos!

Anônimo disse...

Mae

E' claro que eu vi lobisomem aos 3 anos. Eles nao aparecem pros adultos. So para as pessoas as criancas e pessoas especiais...
beijos filho

Anônimo disse...

Jana, você sabe, amo Dandara. Não conheço Lobisominho, quero conhecer. A postagem aqui... bacana!
Beijos de Maria

Janaina Amado disse...

Beijão pra vocês todos, que curtiram comigo o lobisomem de Viçosa!