[Minha mãe era comunista, defensora ardorosa das idéias do PCB. Meu pai também, embora tenha se desligado do Partidão em 1957. Informações sobre as maravilhas do mundo comunista eram comuns na minha família desde que eu me entendi por gente. As bonecas russas de madeira que saíam uma de dentro da outra, ao lado de fotos e distintivos da Cortina de Ferro, misturavam-se às minhas bonecas brasileiras de pano.
Minha mãe tratou logo de reforçar esses ensinamentos, durante as aulas que me deu para o exame de admissão ao ginásio (relatadas no último post). Ela aproveitou bem o tempo para concluir a doutrinação da filha.
Na prova oral de geografia, aconteceu o seguinte diálogo:]
— Diga o nome de três países europeus com suas capitais, ordenou o professor.
— União Soviética/ Moscou, Tchecoslováquia/Praga, Polônia/Varsóvia, respondi na bucha, sem pestanejar.
Ainda hoje me lembro da expressão surpresa do professor Almir, seguida de um sorrisinho, cabeça baixa. Acho que ele era simpatizante...
12 comentários:
Janaína,
dúvida nenhuma.
(cá prá nós: deu nota 100 para você?)
Beijo, menina
Janaína, pois é, onde há cultura, as coisas são mais simples de serem entendidas né?
Veja, quando eu era criança, os mais velhos, pelo menos os que me rodeavam, nos ensinava que o comunismo era como uma doença, uma doença ruim. Contagiosa.
Na pequena cidade onde morava, tinha uma família, que todos diziam ser comunistas.
Uma das garotas estudava comigo. E um dia não porquê, eu a chamei de comunista na sala de aula.
Me lembro como se fosse hoje as lágrimas que provoquei nela.
Aquilo me doeu tanto, que lá se vão quase cinquenta anos, e eu ainda me lembro do fato e da colega. Marilda, ela se chamava.
Nunca mais soube deles.
Mas não a esqueci, sei até o sobrenome dela.
Gostoso ler sua história.
Beijos meu bem.
Jana,
Esta história é nossa, todos passamos por experiências parecidas. Só que no Dante, escola fascista, as coisas eram mais difíceis. Cedo aprendi a levar numa boa.
Beijo grande
a monstra sem pescoço dona da "minha" escola, no meio de um esporro nimim: eu sei que seu pai é amigo daquele escritor CUmunista, surrealista (que nota no surrealista?)
Eu vivi metade de minha vida ouvindo estes diálogos (im)possíveis. Sobrevivi.
Janaína. Vim lá da Aninha. Ela me conduziu até aqui...
Achei ótimo esse texto sobre seus conhecimentos de países ligados ao comunismo. E a admiração do professor...
Voltarei com tempo para ler seus textos, porque estou achando que eles "prometem"!!! rs
Deixo-lhe meu abraço.
Dora
Olá, Unicórnio Azul. Acho que eu ia adorar ser filho da sua mãe...pelo amor à URSS. hehehe.
Eu cresci ouvindo as histórias das guerrilhas... O idealismo já se foi, mas ainda tem gente em casa sentindo falta dos que ficaram pelo Araguaia...
Beijos Jana!
E muito obrigada pelas suas visitas sempre carinhosas!
Gentche, o que tem de leitor aqui filho de comuna! Interessante que vários relataram dificuldades quando crianças, por pertencerem a uma minoria combatida, acusada até de comer criancinhas. Sabem que eu não senti isso? Talvez por morar no Rio, ambiente mais aberto, talvez por estudar em escola pública, talvez por meus pais e tios terem me protegido bem, o fato é que não me senti rejeitada pelas idéias de meus pais. Idéias que eu, aliás, achava o máximo - até batia de porta em porta com meus primos, vendendo distintivos do jornal comunista "Imprensa Popular"! Só mais tarde pude avaliar a experiência do socialismo e ter posição mais distanciada sobre o assunto.
Obrigada pelas contribuições de todos vocês. Valter, claro que tirei 100 - afinal, minha resposta estava certa, não é? Aninha, ótimo vc. ter apresentado o "outro lado". Dora, seja muito bem-vinda, volte, sim. Cláudio, tenho visitado sua caixinha de bregueços, encantada.
Cheguei aqui pelo blog da Aninha e que surpresa agradável !
Se eu fosse seu professor te daria nota 10 ! Belíssima escola tivestes hem ?
Um abraço e gostei muito do blog. Voltarei mais vezes,
Lys
Lys, um abraço pra você também - volte sempre. Vou visitar seu blog.
Postar um comentário