quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Diálogos (im)possíveis 14


Recém-casada e muito jovem, eu desejava fazer da minha casa no Rio uma cópia da casa de meus pais. Como havia ganho de presente de casamento uma dessas sinetas de mesa, desejei usá-la, para chamar a empregada, à hora de servir e tirar a mesa (ai que vergonha, não sei como estou tendo coragem de contar isso no blog). A pessoa que trabalhava lá em casa era Maria, uma pernambucana recém chegada do alto sertão, em seu primeiro emprego como doméstica. Expliquei a ela que, toda a vez em que ouvisse a sineta, era porque eu a estava chamando à mesa. Certo dia, escuto um barulho altíssimo na cozinha. Corro para lá e, ao chegar, avisto Maria balançando freneticamente a sineta.

— Maria, que maluquice é esta?

— Ué, a senhora não disse que a sineta era pra chamar? Tô lhe chamando!

(Pano rápido. A sineta é jogada no lixo e jamais substuída.)

15 comentários:

clarice ge disse...

ha ha ha, to rindo de verdade. Que ótima esta Maria!
Interessante como temos necessidade de imitar a casa dos pais. Como se assim o aconchego e a segurança (simbólicamente) nos acompanhassem. Fiz isso também, rs.
Boa semana Jana

Anônimo disse...

maravilha!

cirandeira disse...

Pois é, Janaína, vire-e-mexe somos flagradas por nós mesmas repetindo nossos pais! Como diz a canção de Belchior: "...apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Felizmente estamos tendo um pouco mais de percepção, fazendo nossas autocríticas!
Essa Maria é das minhas! rrrsss
Beijos

Bernardo Guimarães disse...

maria 1 x 0 jana !

Anônimo disse...

Bwana, bwana, me chama que eu vou...

Maria agora tá de bolsa família tomando suquinho de cajarana em Boa Viagem e passando sms para a família... o mundo dá voltas...

Bonito você contar sobre o sininho, mas lindo ainda você demonstrar vergonha... rsssss

Anônimo disse...

ops.. mais no lugar de mas... rs

Eliana Mara Chiossi disse...

Pra mim, uma leve e engraçada crônica...
Gostei muito...

Maria deu o troco da "maluquice"...

Abçs

Tiago Buckowsky disse...

Interessante como hábitos e costumes burgueses se propagam por uma simples demonstração de poder. Chamar a empregada com uma sineta era, da sua parte, fazê-la reconhecer que era inferior a você. Pois se sua funcionária tem um nome, por que chamá-la com o mesmo artifício que adotamos com os cães. Ainda bem que você se arrependeu deste hábito e muita coragem sua contar isso no blog.

Nílson disse...

Essa foi zen!!!

http://graceolsson.com/blog disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ela aprendeu a licao....Janaina....
bjs e dias felizes, menina

Anônimo disse...

Tooooome! rs

Vai ver é parente de Isabé, a apocalíptica de Maria Sampaio.

Aninha Pontes disse...

Estou aqui imaginano a cara da Maria.
Beijos querida e uma ótima semana.

Dalva Nascimento disse...

Menina, que coisa, hein...? essa nossa mania de copiar nossos pais...

Mas a história é boa, bem engraçada!

Bjs.

Lord Broken Pottery disse...

Jana,
Vi bastante isso, em todas os lugares onde fomos criados. Na casa de minha mãe não se usa mais o sino. Agora ela chama, mas se a empregada não atende, bate com a faca no copo algumas vezes. O "tlim-tlim" é mais fácil de ser ouvido do que a voz. Aliás, longe de algumas deduções sociológicas ligeiras, prefiro acreditar que o hábito veio do fato das casas serem muito grandes antigamente. O ruído do sino era mais fácil de ser ouvido à distância.
Beijo grande

Edu O. disse...

Bom demais!