Literatura, história e o que mais der na cabeça: um blog que acredita na magia, liberdade, prazer e mistério da invenção e da criação.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Nos passos de Van Gogh
Meu marido e eu somos apaixonados por Van Gogh. Nesta última viagem, visitamos o Monastere Saint-Paul de Mausole, em Saint-Rémy de Provence, França, o sanatório para onde Van Gogh voluntariamente se dirigiu, e onde ficou internado durante um ano, de maio de 1889 a maio de 1890.
Tudo ali é tocante. Afastado da cidade, próximo a um sítio arqueológico romano (Glanum), o prédio do sanatório parece emergir de outro tempo. As grossas, gastas paredes encobrem sofrimento. Uma larga escadaria leva ao segundo andar, onde ficava o quarto de Van Gogh: como o outro, o mais famoso, aquele de Arles que ele pintou com uma cama e uma pequena cadeira de palha ao lado, este quarto também é pequeno, apertado, pobre. Uma cama de ferro, uma pequena janela para a horta e o jardim dos fundos, uma mesinha estreita, não há lugar para mais. Junto à porta, uma fotografia antiga denuncia o mesmo quarto mais próximo do que teria sido à época em que o pintor o habitava: paredes descascadas, a cama de ferro dura, hospitalar.
Sinto opressão. O que sentiria o artista, tomado pelas dores das suas próprias alucinações? Sentiria frio? Provavelmente não, já que era um homem do norte da Europa... eu divago. Mas devia sentir frio na alma! E uma solidão completa, absoluta, aqui perdido dentro de si mesmo e da incompreensão de todos os que o cercavam, loucos e sãos. De algum modo, contudo, conseguia arrancar de si perspectivas, cores, pontos de fuga, tintas com as quais construiu, a partir daquele cenário, alguns dos mais belos quadros da humanidade.
No “roteiro Van Gogh” que o sanatório/museu atual criou, vemos, junto à paisagem que quase não se modificou, os quadros que Van Gogh pintou dela. Comparando quadro e paisagem, percebemos que as pinturas são infinitamente mais intensas, coloridas, intrigantes, dramáticas, doloridas, como a paisagem não consegue ser. E sentimos então toda a magia da arte.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
10 comentários:
Oi Janaina, cada um tem o seu mar de tormento, os seus frios na alma.
Te desejo uma linda semana
Um beijo ghrande
Ah, há muito nao entro no skipe, rs, melhor por email
Adorei viajar com você nesse texto; consegui enxergar o próprio Van Gogh! Continue narrando histórias que vivenciou na sua viagem!
Que fascínio! Belo o teu post, pois leva-nos convosco.
Beijinho
juntou um bando de coisa boa: viagem,frança,arte,van gogh.
Também adoro Van Gogh! Não entendo muito de pintura, mas pra mim sempre foi primeiro o velho Vincent, e depois, muito depois, qualquer outro. O traço inconfundível: fagulhas! Quando estive em Paris fui atrás de telas dele. E toda vez que vou a São Paulo passo pelo Masp, basicamente pra ver Van Gogh.
Lindo texto! Aí estão dois artistas, um sentindo com o pincel e as cores, outra com o teclado e as letras. Um, terrivelmente injustiçado, vivendo numa pobreza imensa, sem reconhecimento de suas obras que hoje valem milhões de dólares, outra, com algum reconhecimento nestes pequenos trechos de comentários. Para ambos, parabéns, muito obrigado.
Fiquei paralisado quando vi o primeiro Van Gogh da minha vida. Sou louco por Cezanne e endoidei no seu atelier. Como vc escreveu lindamente!!! obrigado
Janaina, amo Van Gogh: a sua dor, a sua loucura, a sua arte. Que bom que voltou. Beijos
Que máximo! Isso aí, continue nos contando o que vê e o que experimenta, assim vivenciamos um pouquinho dessa riqueza. Viva a net!!
Janaina..onde vc nasceu?
Postar um comentário