Canção do amor livre
Jacinta Passos
Se me quiseres amar
não despe somente a roupa.
Eu digo: também a crosta
feita de escamas de pedra
e limo dentro de ti,
pelo sangue recebida
tecida
de medo e ganância má.
Ar de pântano diário
nos pulmões.
Raiz de gestos legais
e limbo do homem só
numa ilha.
Eu digo: também a crosta
essa que a classe gerou
vil, tirânica, escamenta.
Se me quiseres amar.
Agora teu corpo é fruto.
Peixe e pássaro, cabelos
de fogo e cobre. Madeira
e água deslizante, fuga
ai rija
cintura de potro bravo.
Teu corpo.
Relâmpago depois repouso
sem memória, noturno.
*Imagem: Amor e Psyché, de Alberto Canova, daqui
Jacinta Passos
Se me quiseres amar
não despe somente a roupa.
Eu digo: também a crosta
feita de escamas de pedra
e limo dentro de ti,
pelo sangue recebida
tecida
de medo e ganância má.
Ar de pântano diário
nos pulmões.
Raiz de gestos legais
e limbo do homem só
numa ilha.
Eu digo: também a crosta
essa que a classe gerou
vil, tirânica, escamenta.
Se me quiseres amar.
Agora teu corpo é fruto.
Peixe e pássaro, cabelos
de fogo e cobre. Madeira
e água deslizante, fuga
ai rija
cintura de potro bravo.
Teu corpo.
Relâmpago depois repouso
sem memória, noturno.
Jacinta Passos [1914-1973], escritora baiana, publicou quatro livros de poemas - Momentos de poesia, Canção da Partida, Poemas políticos e A Coluna – e foi jornalista atuante. Feminista, comunista, internada em sanatórios como louca, enfrentou duros estigmas, com coragem e coerência.
Jacinta Passos é minha mãe. Ando feliz porque, em breve, sairá publicada sua obra completa. Irei dando notícia a vocês. Sua poesia - etérea, improvável, inútil segundo alguns - sua poesia permanece.
Jacinta Passos é minha mãe. Ando feliz porque, em breve, sairá publicada sua obra completa. Irei dando notícia a vocês. Sua poesia - etérea, improvável, inútil segundo alguns - sua poesia permanece.
*Imagem: Amor e Psyché, de Alberto Canova, daqui
12 comentários:
E que poesia! Todas que leio dela me deixam assim: deslumbrada. Esse poema, então, me deixou sem ar.
Grande abraço.
confesso a minha completa ignorância quanto a pessoa e a obra desta incrível poeta. colocarei na minha lista, para quando por aí chegar, sair correndo atrás dela.
que bom que você voltou de férias!!!
Poesia maravilhosa, visceral. Que orgulho você deve ter. Parabéns. Beijos.
Caramba, Jana!
Que bela surpresa! Enquanto lia tua descrição pensava que seria legal saber mais da história dela, até que cheguei na parte onde você diz que ela é tua mãe.
Escreve mais sobre ela. Deve ter sido uma vida bem vivida.
bjs
Que forma fantástica de dizer o orgulho de ser poeta filha de poeta...
lindo dia
beijos
Olá!
Obrigada pela tua redobrada atenção.
Na verdade o PC ficou de lado no fim-de-semana: entre os testes de meus alunos e a jardinagem!
Agora cá estou, de novo.
Belo poema. Foi belo descobrir.
Beijinho
Jana, eu sempre engasgo com os poemas POEMAS de Jacinta, me emociono com suas palavras sobre sua mãe. Você sabe que disputo o primeiro lugar na fila do livro.
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Fiquei arrasada por não subir para o champanhe, mas eu estava naquele dia abaixo do cu da perua com a perda de Regina.
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Beijo de sua fã
Maria
Oi, Janaína, obrigado pelo que disse a respeito do Fauniflora. Também gosto de literatura e costumo "rodopiar".
Abraços.
Lindo, Jana! Lindo!
Beijos
PS: deixei um comentário no ultimo post pra vc!
Vou aguardar, então, mais notícias.
Mas para já fica este belo poema numa promessa de muita beleza.
Beijinhos.
Isabel
Belo poema. Que legal dialogar assim com sua mãe - com essa face poética, visceral. Dê mais notícias do livro!
A cada coisa que leio de Jacinta, fico na expectativa do livro.
Tive na fazenda Campo Limpo, para ver as fotos que lá tem e os objetos. Mas nunca encontro ninguém,sei que a fazenda pertence a Lita, contudo, o caseiro que na única vez q encontrei, estava de sainda e o pessoal tem intervalos distantes entre uma visita e outra. Espero poder conhecer os ares que também serviram de inspiração para esta que tenho como uma grande escritora, Jacinta Passos.
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