quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Brasil bom



Ultimamente, tenho me envergonhado um bocado do Brasil. Me sinto mal diante da nossa miséria, da nossa absurda concentração de renda e de terras, da nossa corrupção, desta violência cega que nos assola, da falta de respeito aos cidadãos, das colossais carências na educação e saúde públicas, dos nossos crimes contra o meio-ambiente. A lista enorme é do tamanho da minha amargura, vergonha, desconforto, revolta. Não vejo esses problemas como obra específica deste governo ou do anterior, vejo-os como males antigos, que governo nenhum parece tentar ou conseguir resolver.
Contudo, vez por outra sou surpreendida por alguma notícia boa. Aí me dá uma alegria, uma esperança doida de que nem tudo está perdido, de que nosso país tão grande, rico em recursos naturais, com um povo tão criativo, ainda vai resolver ou atenuar alguns de seus problemas básicos.
Ontem, me aconteceu uma dessas experiências realmente boas. Devido a um problema doloroso nos músculos e nervos das mãos e braços, que me obrigou a três pequenas cirurgias no ano passado, busquei atendimento médico na rede sarah de hospitais, em Salvador. Para quem não conhece, trata-se de uma rede nacional de hospitais públicos, com unidades em várias cidades do Brasil, voltada para o tratamento de doenças do aparelho locomotor.
Pois bem: exatamente ao contrário do que costuma acontecer em nossos hospitais públicos, tudo lá funcionou muito bem, ontem. De forma rápida, cortês e eficiente, uma funcionária fez meu cadastro e me orientou a aguardar o horário da consulta. Esperei num local sem nenhum luxo, mas agradável, amplo, arejado e impecavelmente limpo, eu e mais uma grande quantidade de pessoas, a maioria, dava para perceber, gente pobre, do povo, muitos com problemas motores seríssimos.
Aproveitei para conversar com essas pessoas a respeito de suas experiências no hospital. Pasmem, só ouvi elogios: os médicos (muito melhor remunerados do que nos outros serviços públicos do país, portanto, de muito melhor nível, no conjunto) são ótimos, competentes e compreensivos; as consultas, sessões de fisioterapia e cirurgias começam no horário marcado, ou com pequeno atraso. Ouvi frases assim: “Estou me sentindo muito melhor do que quando o tratamento começou”; “Eu já fiz cirurgia, agora estou fazendo fisioterapia”; “Fiquei internada, depois de um tempo voltava pra casa nos fins de semana, agora venho aqui três vezes por semana, e, a partir do próximo mês, só uma vez por semana – eu não andava, voltei a andar”; “Quebrei 32 ossos num acidente terrível, agora estou quase inteiro”; “O hospital empresta pra gente cadeira de rodas, muleta, andador, cama especial, o que precisar, depois a gente devolve”. Minha própria experiência ontem foi excelente: como paciente, me senti bem cuidada e orientada; como ser humano, me senti respeitada.
Acreditem: tudo isso é gratuito. Gratuito, não, pois, como escrito no site da rede sarah, a instituição “tem como objetivo retornar o imposto pago por qualquer cidadão, prestando-lhe assistência médica qualificada e gratuita, formando e qualificando profissionais de saúde, desenvolvendo pesquisa científica e gerando tecnologia.”
Não sei se a qualidade que encontrei ontem é a mesma todos os dias, em todas as unidades do sarah, para todas as pessoas. Só sei que, ontem, minha esperança no país reacendeu. Se foi possível conseguir tanto em um lugar específico, será possível conseguir a mesma qualidade e eficiência em outros lugares, atividades, setores. Pela primeira vez em muito tempo, senti orgulho do nosso Brasil. Êta sentimento bom!

*Imagem daqui

12 comentários:

Anônimo disse...

Jana, creia! o atendimento é SEMPRE bom assim. Conheço muita, muita gente que se tratou ou trata lá. SEMPRE esta sensação boa que você sentiu, e resultados ótimos. No momento Tutu está em físio e que tais de (esqueci o nome) no joelho e ficando bom. Havia lutado em seca e meca sem resultados porque nas ricas clínicas diziam ser sequela de AVC.
Logo mais estaremos jambalaiando.

Anônimo disse...

Isso só comprova que, se bem gerido, o sistema de saúde público poderia funcionar muito melhor, mesmo sem CPMF. Melhoras Janaina.

Muadiê Maria disse...

Jana, só ouço coisas boas do Sara. Que ótimo!

Nilson disse...

Oi, Janaína. Tô feliz por estar de volta e passar por aqui de novo. O Sara devia desentortar é o Brasil, né não? Bjs!

Bernardo Guimarães disse...

Jana:
A rede Sarah é assim mesmo: em Brasilia, Sáo Luis, Salvador. Comandada por Dr Aluisio Campos da Paz,prima pela qualidade do atendimento, provando que é possível se fazer saúde pública de qualidade, sim. Basta selecionar por concurso, pagar bem, exigir bom atendimento, investir na qualificação de todos os profissionais e botar pra fora quem mijar fora do pinico!
Parece simples? e é. O sarah funciona, o HGE não; por que será?

Bípede Implume disse...

Olá Janaína
Desculpa só agora lhe agradecer seu comentário nos Diletantes.
Levei muito tempo para postar, o que fiz hoje.
No Com Calma sou mais assídua.
Um abraço amigo de Lisboa.
Isabel

Aninha Pontes disse...

Isso mostra que quando se tem vontade é possível né?
Pena não ser assim em outros locais.
Engraçado, como o que é ruim, o que é errado, se dissemina com tanta facilidade, e o que é bom, o que serve de exemplo é sempre mais demorado.
Mais, de qualquer forma, válida sua idéia de mostrar aqui o que de bom encontrou. Precisamos sim divulgar, e não apenas reclamar do que não funciona.
Querida, cumpri minha missão. Demorei, mas fiz o meme.
Um beijo e bom final de semana.

Anônimo disse...

Jana, concordo com você na avaliação a respeito do Sarah.
As notícias de fraude e desvio do dinheiro público atestam que o sistema de saúde no Brasil poderia funcionar nos moldes dos hospitais da rede Sarah.
Ler o seu post me causou uma sensação estranha: constatar que, ao contrário de você, eu tenho muita vergonha do nosso país...
Beijos
Dôra

Edu O. disse...

Eu me operei no Sarah quando tinha 8 anos. O que, para uma criança, poderia parecer um inferno, se tornou num dos melhores momentos de minha vida.

Anônimo disse...

Janaína,
vc tem certeza? Não viajou pro exterior não?
Bom, não sou de duvidar de amigos. Mas que é difícil, isso é.
Tá melhor, então?
Beijo, menina

Ana Tapadas disse...

É bom saber que existem locais assim!Nos quais a pessoa humana conta.
Um beijinho

Marcus Gusmão disse...

Janaina,
tive o prazer de passar uma tarde com Léle, o arquiteto que bolou os edifícios da rede sarah, os equipamentos, as camas, a disposição dos leitos. É daquelas pessoas cujo contato nos transforma. A entrevista está publicada na revista da Unifacs (ainda não está na rede). Entrei dias depois num hospital convencional (Jorge Valente) e fiquei com a impressão de ter entrado num caixote abafado.
O grande ovo de colombo da parte física do Sarah é luz, ar e espaço. Veja um pouco dele aqui http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v60n1/a05v60n1.pdf