domingo, 23 de agosto de 2009

Viajar é perder-se


[Continuando a série sobre viagens]

Viagem

Viajar
mas não
para

viajar
mas sem
onde

sem rota sem ciclo sem círculo
sem finalidade possível.

Viajar
e nem sequer sonhar-se
esta viagem.

Orides Fontela (do livro Rosácea, 1986)

Apesar de pouco conhecida do público, a paulista Orides Fontela (1940-98) é uma das melhores poetas brasileiras do século XX. Teve uma vida difícil, devido a problemas ecônomicos e mentais — faleceu em um sanatório —, mas sua poesia mereceu prêmios importantes, como o Jabuti e o da Associação Paulista de Críticos de Arte. A obra de Orides Fontela está agrupada no volume póstumo Poesia reunida (S.Paulo: 7 Letras/Cosacnaify, 2008), um livro em que vale a pena viajar, redescobrir-se, perder-se.
*Imagem: "Scape", pintura de Stephen Linhart

10 comentários:

cirandeira disse...

Oi Janaína, vim "assuntar" para "acreditar em teus truques" e encontrei coisas muito boas.Acho importantíssimo divulgar trabalhos
de pessoas que são praticamente desconhecidas do público.Principalmente as que se encontram no Nordeste e no Norte,regiões que abrigam um verdadeiro tesouro cultural e não recebem o devido valor e respeito.
Quero pedir-te "licença" para também acrescentar em meu blog os trabalhos delas. Tenho tentado fazer um trabalho semelhante, pq acho de fundamental importância fazê-lo. Se deres uma olhada em algumas postagens mais antigas que já fiz, poderás encontrar algumas interessantes.
Devo confessar que, mesmo sendo medianamente informada, não conhecia a maioria delas. Estou feliz pela oportunidade de conhecê-las. Muito obrigada por essa oportunidade. E parabéns, mais uma vez!
Uma boa semana pra você

Gerana disse...

Outro dia, foi João Filho quem fez uma homenagem também para Fontela. Daí que concluímos que escrever é uma forma de permanecer.

ROTA
Orides Fontela

Há um rumo intacto, uma
absoluta aridez
na ave que repousa. Nela
o repouso é a rota: não há mais
necessidade de vôo.

in Trevo (1969-1988)
(SP:Duas Cidades, 1988 - Coleção Claro Enigma)

Anônimo disse...

Altíssima poesia, a de Orides.
Ótimos os poemas com que você
e Gerana nos brindaram.

SIDNEY WANDERLEY

Bernardo Guimarães disse...

o bom é isso, alguem nos apresentar artes belíssimas. esta poeta, por ex., não conhecia.
brigado pela dica.

Ana Tapadas disse...

Tens toda a razão...eu pelo menos não conhecia a autora e ela é excelente!
Amanhã parto de novo para mais uns dias. Agora com a família no norte.
Beijinho

nydia bonetti disse...

e são tantos os poetas brilhantes, quase que esquecidos. tesouros escondidos. somos mesmo um povo sem memória. acho realmente importante fazer este resgate, janaína e fontela é um belo exemplo. beijos

Grace Olsson disse...

Bela opcao:divulgar os outros.Isso prova quem vc é, de fato..Janaina, eu concordo com o poema...Antigamente, querida, eu viajava dessa forma...Nao sabia onde iria parar..e sempre dava em boas viagens..bjs e dias felzies

O que elas estao lendo!? disse...

Oi Janaina, tudo bem?

Vim te avisar que você está no ar.

Beijos Georgia

Luma Rosa disse...

Dizem que seu jeito tresloucado, chamava a atenção e sua obra era colocada de lado, reconhecida praticamente após a sua morte. Li Téia com prefácio de Marilena Chauí.

Ela era uma pessoa irritadiça, mas não tinha problemas mentais. O sanatório em Campos do Jordão recebia todo tipo de 'moribundo' sem eira nem beira e ela não tinha dinheiro para fazer tratamento, pagar aluguel, se sustentar e preferiu se candidatar a paciente no sanatório. Morreu de insuficiência cardiopulmonar.

Beijus,

aeronauta disse...

Oi, Janaína, eu simplemente ADORO Orides Fontela! Bom encontrá-la aqui.