
A mãe dela dizia sempre: “Os olhos dele são verdes”, mas ela sabia que não. “São pretos, tá me ouvindo? Eu é que sei”, respondia, naquela irritação típica de adolescente com mãe. Às vezes pensava: “Os olhos pretos dele são como rochas, que suportam o mar, o mundo. Me protegem. Com os olhos pretos dele, nunca vou afundar na vida”.
Encontraram-se ainda muito jovens, ela quase menina, ele pouco mais velho, estudante universitário. Paixão. Descoberta da vida, adivinhação do sexo (que não fizeram, ela prometera à mãe, os tempos eram outros), conversas íntimas, sonhos de casamento, afinal os pais aprovavam, tudo nos conformes, previsível, como os pretos olhos dele.
Deu tudo errado.
Ela buscou outros chãos, curiosa aventurou-se pelo mundo, sôfrega de emoções, conhecimento, felicidade. Afundou, reergueu-se para novos mergulhos, píncaros e vales, no meio um longo casamento que deixou lembranças difíceis mas filhas lindas. Mudanças, recomeços, vitórias, realizações profissionais, pessoais. E também aquela persistente insatisfação, aquela busca que não parava nunca de pedir, de exigir dela que procurasse, que insistisse, que não desistisse. Não sabia bem o quê, do quê. E como não sabia, não encontrava. Ficava só aquele oco, o sentimento da falta.
Ele seguiu seu caminho longe, dedicou-se seriamente à carreira, chegou ao ápice ali. Casamento também longo e infeliz, também filhos lindos. E uma tristeza... que não passava. Em frente ao mar da sua cidade, muitas vezes se perguntou por onde ela andaria, em que outros mares navegava – e o que via era só horizonte vazio. Uma tristeza que nunca o deixava.
Reencontraram-se há pouco, quarenta anos depois. Tudo de repente fez sentido. Redescoberta da vida, do sexo selvagem e manso como só os experientes sabem. Quanta história pra contar! Agora caminham os dois por aí de mãos dadas, felizes, felizes. Só querem saber de namorar, nada de casamento formal. E ela descobriu que os olhos dele são, sim, verdes. Como relvas, que não agüentam o mundo mas onde ela pode se deitar, rolar, afundar no prazer, na alegria, relaxar -- enfim se aconchegar.
Encontraram-se ainda muito jovens, ela quase menina, ele pouco mais velho, estudante universitário. Paixão. Descoberta da vida, adivinhação do sexo (que não fizeram, ela prometera à mãe, os tempos eram outros), conversas íntimas, sonhos de casamento, afinal os pais aprovavam, tudo nos conformes, previsível, como os pretos olhos dele.
Deu tudo errado.
Ela buscou outros chãos, curiosa aventurou-se pelo mundo, sôfrega de emoções, conhecimento, felicidade. Afundou, reergueu-se para novos mergulhos, píncaros e vales, no meio um longo casamento que deixou lembranças difíceis mas filhas lindas. Mudanças, recomeços, vitórias, realizações profissionais, pessoais. E também aquela persistente insatisfação, aquela busca que não parava nunca de pedir, de exigir dela que procurasse, que insistisse, que não desistisse. Não sabia bem o quê, do quê. E como não sabia, não encontrava. Ficava só aquele oco, o sentimento da falta.
Ele seguiu seu caminho longe, dedicou-se seriamente à carreira, chegou ao ápice ali. Casamento também longo e infeliz, também filhos lindos. E uma tristeza... que não passava. Em frente ao mar da sua cidade, muitas vezes se perguntou por onde ela andaria, em que outros mares navegava – e o que via era só horizonte vazio. Uma tristeza que nunca o deixava.
Reencontraram-se há pouco, quarenta anos depois. Tudo de repente fez sentido. Redescoberta da vida, do sexo selvagem e manso como só os experientes sabem. Quanta história pra contar! Agora caminham os dois por aí de mãos dadas, felizes, felizes. Só querem saber de namorar, nada de casamento formal. E ela descobriu que os olhos dele são, sim, verdes. Como relvas, que não agüentam o mundo mas onde ela pode se deitar, rolar, afundar no prazer, na alegria, relaxar -- enfim se aconchegar.